segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

AMÉRICA ESPANHOLA

ENCONTROS NA AMÉRICA: Da conquista a colonização.

1. Foi, portanto como (...) prêmio de vitória que foram dados os índios aos espanhóis (...). Como, depois de ganho o Novo Mundo, ficasse tão distante do Rei, não podia de modo algum mantê-lo em seu poder se os mesmos que o tinham descoberto e conquistado não o guardassem (...) acostumando os índios às nossas leis (...) Segue-se que tratemos do serviço pessoal dos índios, no qual se compreende toda a utilidade que pode obter o encomendadero do trabalho do índio.

Este texto foi escrito pelo cronista José da Costa, no século XVI. Para entendê-lo, é importante considerar que, na sociedade colonial hispano-americana, no período da conquista da América, os índios
a) tinham uma posição social semelhante aos guachupines, que eram brancos pobres trazidos da Europa para trabalhar na lavoura, com direito também de exercer ofícios artesanais.
b) eram considerados como simples instrumentos de trabalho e podiam ser comprados, vendidos e doados, sendo utilizados na agricultura, nas minas, no transporte de mercadorias e nos serviços domésticos.
c) permaneceram no regime de trabalho existente antes entre os incas, chamado de cuatequil, no qual eram submetidos a uma servidão na agricultura, com fixação na terra e na comunidade originária.
d) foram utilizados como mão-de-obra a partir da encomienda e da mita, sendo que no primeiro caso eram confiados a um espanhol a quem pagavam tributo sob a forma de prestação de serviço.
e) transformaram-se em súditos do rei da Espanha e deviam pagar a ele tributos, através da entrega periódica de metais preciosos e da prestação de serviços em terras comunais, inclusive mulheres e crianças.

2. Os processos de exploração do Novo Mundo por Portugal e pela Espanha tiveram diferentes motivações e atenderam às necessidades e interesses específicos dos países envolvidos. Comparando a atuação dos portugueses e dos espanhóis na América, considere as seguintes afirmativas:

I. Nos primeiros trinta anos da descoberta do Brasil, o interesse português se concentrou no litoral, porque ali havia ouro em abundância.
II. No México e no Peru, onde os espanhóis encontraram uma grande concentração populacional, a exploração da mão-de-obra indígena se deu pelo aproveitamento da estrutura vigente, ou seja, a imposição de trabalho forçado e a cobrança de tributos.
III. Na América espanhola e no Brasil, missionários e colonos atuaram em conjunto na escravização dos índios.
IV. Os efeitos da Contra-Reforma se fizeram sentir na América espanhola por meio da atuação do Tribunal da Inquisição, que perseguia os cristãos acusados de práticas judaicas ou práticas religiosas de origem indígena.

Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.

3.             "A conquista espanhola, em todas as regiões onde se viu coroada de êxito, conduziu a um processo de crise geral das culturas submetidas. Em certas situações, como no caso Arawak das Antilhas, levou ao completo desaparecimento físico da população conquistada. Noutros casos, como no México ou no Peru, ainda que não tenha eliminado totalmente a população indígena, provocou alterações e deformações profundas na cultura e no modo de vida dos povos conquistados.
                (VAINFAS, R. "Economia e sociedade na América espanhola". Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 40.)

De acordo com o texto e com os conhecimentos sobre o tema é correto afirmar:
a) A historiografia hispano-americana explica que a baixa populacional indígena está diretamente vinculada à prática do homicídio entre os nativos, quando estes perceberam que seriam obrigados a adotar o cristianismo como religião única. A baixa demográfica, desse modo, está relacionada a uma falta do conhecimento dos preceitos da Fé Cristã, que condena o atentado contra a própria vida.
b) Vírus e bactérias até então desconhecidos pelos nativos foram responsáveis pela baixa populacional indígena. Sem imunidade para várias doenças como sarampo, gripe, asma, tuberculose e sífilis, a população nativa adoecia morria rapidamente. A Coroa espanhola procurou enviar médicos para as colônias mas, como as viagens por mar eram muito demoradas, a população não conseguiu resistir.
c) A crise das culturas indígenas americanas deu-se em função das diversas alterações empreendidas pelos europeus nas colônias: instalação de uma economia mercantil que  redefiniu o ritmo e a intensidade do trabalho; modificação dos cultivos que fez com que mudasse a dieta dos nativos; deslocamento de aldeias causando distúrbios ecológicos e culturais; atitudes de autodestruição ao verem ruir seus costumes; epidemias e falta de imunidade, entre outros.
d) As mulheres indígenas adotaram, em massa, práticas abortivas, impedindo a perpetuação das diversas culturas nativas e forçando os europeus a importarem da África a mão-de-obra escrava necessária. A baixa demográfica, desse modo, pode ser explicada pela vinda de africanos para a América e a intensa miscigenação iniciada nesse momento.
e) A superioridade armamentista dos espanhóis foi responsável pela dizimação da maior parte da população indígena, pois, ao depararem-se com armas superiores, os nativos não tinham como se defender. Embora existisse o comércio informal de armas - contrabando - os indígenas não conseguiam comprá-las e assim continuavam em desvantagem utilizando arcos e flechas com pontas envenenadas.

4. Leia o texto a seguir:

                "[...] Aqueles que deixaram a Espanha para converter os índios viram-se incumbidos de uma missão de especial importância no esquema divino da história, pois a conversão do Novo Mundo era um prelúdio necessário para seu término e para a segunda vinda de Cristo. Acreditavam também que, entre esses povos inocentes da América ainda não contaminados pelos vícios da Europa, poderiam construir uma Igreja que se aproximasse da de Cristo e os primeiros apóstolos. Os primeiros estágios da missão americana, com o batismo em massa de centenas de milhares de índios, pareciam garantir o triunfo desse movimento em prol de um retorno ao cristianismo primitivo que havia tão repetidamente sido frustrado na Europa. [...] No entanto, embora o índice de conversão fosse espetacular, sua qualidade deixava muito a desejar. Havia sinais alarmantes de que os índios que haviam adotado a fé com aparente entusiasmo ainda veneravam seus velhos ídolos em segredo. Os missionários também se chocaram contra muralhas de resistência nos pontos em que suas tentativas de incutir os ensinamentos morais do cristianismo conflitavam com padrões de comportamento estabelecidos havia muito tempo. Não era fácil, por exemplo, inculcar as virtudes da monogamia a uma sociedade que via as mulheres como servas e o acúmulo de mulheres como fonte de riqueza.  
                (ELLIOT, J. H. "A conquista espanhola e a colonização da América". In: BETHELL, L. (org.). História da América Latina: América Latina Colonial I. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998, v. 1 p. 185-186.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a colonização das Américas portuguesa e espanhola, é correto afirmar:
a) As ordens religiosas que no novo mundo se instalaram utilizaram-se do ouro existente em abundância e do trabalho indígena para conquistá-los para a fé cristã, prometendo-lhes defender suas terras, espaço de sobrevivência terrena, e o reino dos céus, lugar do descanso após a morte.
b) A primeira geração de missionários percebeu que os índios não conseguiam compreender a diferença entre adoração a uma imagem e o conteúdo religioso que ela representava. Para solucionar esse problema, algumas imagens de deuses indígenas foram inseridas nas igrejas católicas construídas nas colônias.
c) Quando os missionários das diversas ordens religiosas perceberam que os indígenas eram desobedientes e necessitavam de cuidado especial, propuseram à Coroa espanhola que estimulasse o casamento misto como forma de forçar a adoção - por parte dos nativos - da Fé Cristã.
d) As comunidades indígenas existentes nas Américas portuguesa e espanhola, juntamente com os missionários, investiram no cultivo da terra e exportação de produtos manufaturados  para a Europa.
e) A Espanha, baluarte do catolicismo, investiu na conquista religiosa dos nativos acreditando, a princípio, que os indígenas, por não conhecerem nem terem tido contato com os defeitos morais e maus hábitos existentes no  velho mundo, fossem mais propensos à conversão para a Fé Católica.

5. Leia o texto.

                Colombo fala dos homens que vê unicamente porque estes, afinal, também fazem parte da paisagem. Suas menções aos habitantes das ilhas aparecem sempre no meio de anotações sobre a Natureza, em algum lugar entre os pássaros e as árvores.
                (TODOROV, Tzvetan. "A conquista da América: a questão do outro". São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 33.)

A passagem acima ressalta que a atitude de Colombo decorre de seu olhar em relação ao outro. Essa posição, expressa nas crônicas da Conquista, pode ser traduzida pela
a) interpretação positiva do outro, associando-a à preservação da Natureza.
b) identificação com o outro, possibilitando uma atitude de reconhecimento e inclusão.
c) universalização dos valores ocidentais, hierarquizando as formas de relação com o outro.
d) compreensão do universo de significações do outro, permitindo suas manifestações religiosas.
e) desnaturalização da cultura do outro, valorizando seu código lingüístico.

6. "Podemos dar conta boa e certa que em quarenta anos, pela tirania e ações diabólicas dos espanhóis, morreram injustamente mais de doze milhões de pessoas..."
                Bartolomé de Las Casas, 1474 - 1566.

"A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem."
                Pablo Neruda, 1904 - 1973.

As duas frases lidas colocam como causa da dizimação das populações indígenas a ação violenta dos espanhóis durante a Conquista da América. Pesquisas históricas recentes apontam outra causa, além da já indicada, que foi
a) a incapacidade das populações indígenas em se adaptarem aos padrões culturais do colonizador.
b) o conflito entre populações indígenas rivais, estimulado pelos colonizadores.
c) a passividade completa das populações indígenas, decorrente de suas crenças religiosas.
d) a ausência de técnicas agrícolas por parte das populações indígenas, diante de novos problemas ambientais.
e) a série de doenças trazidas pelos espanhóis (varíola, tifo e gripe), para as quais as populações indígenas não possuíam anticorpos.

7. "O que podia acontecer a estes bárbaros mais conveniente ou mais saudável do que serem submetidos ao domínio daqueles cuja prudência, virtude e religião os converterão de bárbaros, tais que mal mereciam o nome de seres humanos, em homens civilizados o quanto podem ser, de facinorosos em probos, de ímpios e servos do demônio em cristãos e cultores da verdadeira religião? [...] E se recusarem o nosso domínio poderão ser coagidos pelas armas a aceitá-lo, e esta guerra será, como acima declaramos com autoridade de grandes filósofos e teólogos, justa pela lei da natureza, muito mais ainda do que a que fizeram os romanos para submeter a seu império todas as demais nações, assim como é melhor e mais certa a religião cristã do que a antiga dos romanos, sendo maior o que em engenho, prudência, humanidade, fortaleza de alma e de corpo e toda virtude os espanhóis fazem a estes homúnculos do que os antigos romanos faziam às outras nações."
                (As justas causas de guerra contra os índios, segundo o tratado de Demócrates Alter, de Juan Ginés de Sepúlveda. In: SUESS, Paul (coord.). "A conquista espiritual da América Espanhola". Petrópolis: Vozes, 1992, p. 534-535.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a conquista da América, é correto afirmar que Juan Ginés de Sepúlveda:
a) ficou ao lado de Bartolomé de Las Casas na defesa dos índios da América, adotando uma posição fundada na teoria da desigualdade natural dos homens, que afirmava ser injusto os povos superiores escravizarem os inferiores.
b) criticou o expansionismo espanhol na América com base na teologia cristã, que afirmava ser a escravidão um pequeno preço a pagar diante os benefícios da inserção do indígena na civilização européia e, portanto, na comunidade cristã.
c) traçou as diretrizes gerais do Estado espanhol em relação à política indigenista na América, na medida em que defendia a idéia de que caberia à igreja Católica, sob a supervisão da Coroa, promover a conversão dos conquistados para a religião cristã.
d) defendeu a tese de que a Coroa Espanhola deveria estabelecer uma política centralizada em relação à conversão dos indígenas americanos, pois ficou incomodado com as narrativas das atrocidades cometidas pelos conquistadores espanhóis em relação aos incas e astecas.
e) foi um representante do renascimento ibérico, na medida em que combina em seu pensamento elementos da teologia cristã e da filosofia da antiguidade greco-romana, dentre eles a idéia de guerra justa, justificando assim o domínio espanhol na América.

8.

" 'Naquele tempo, não havia doenças, nem febres, nem doenças dos ossos ou de cabeça (...). Naquele tempo, tudo estava em ordem. Os estrangeiros mudaram tudo quando chegaram.' De fato, por mais saudosismo que possa expressar esse lamento, parece mesmo que as doenças do Velho Mundo foram mais freqüentemente mortais nas Américas do que na Europa. O missionário alemão chegou inclusive a escrever no finalzinho do século XVIII que 'os índios morrem tão facilmente que só a visão ou o cheiro de um espanhol os fazem passar deste para outro mundo'. Umas quinze epidemias dizimaram a população do México e do Peru."
                FERRO, Marc. "História das colonizações - das conquistas às independências - séculos XIII a XIX". São Paulo: Cia. das Letras, 1996.

Os documentos denunciam as doenças provocadas pelos agentes do
a) Colonialismo espanhol que dizimaram populações nativas na América, na Idade Moderna.
b) Colonialismo português em suas possessões, entre os séculos XVI e XVIII.
c) Imperialismo ibérico e dos Países Baixos exterminando as populações incas, maias e astecas, na Idade Contemporânea.
d) Mercantilismo europeu nas colônias anglosaxônicas, desde o final da Idade Média.
e) Colonialismo lusitano no México e no Peru, a partir do século XVI.



AGORA  É COM VOCÊ

1. Organizada com base na exploração estabelecida pelo mercantilismo metropolitano espanhol, a sociedade colonial apresentava, no topo da escala hierárquica,
a) os criollos, grandes proprietários e comerciantes que, por constituírem a elite colonial, participavam das câmaras municipais.
b) os chapetones, que ocupavam altos postos militares e civis.
c) os calpulletes, que ocupavam altos cargos administrativos dos chamados ayuntamientos.
d) os mestiços, que, por serem filhos de espanhóis, podiam estar à frente dos cargos político-administrativos.
e) os curacas, donos de grande quantidade de terra, que administravam os cabildos.

2. A conquista sangüinária da América espanhola é dominada por [uma] paixão frenética. Rio da Prata, Rio do Ouro, Castela do Ouro, Costa Rica, assim se batizavam as terras que os conquistadores desvendavam ao mundo...
                (Paulo Prado. "Retrato do Brasil". 1928.)

A "paixão frenética" da conquista da América a que se refere o autor está relacionada
a) à irracionalidade da expansão comercial e marítima européia, realizada sem conhecimentos tecnológicos adequados.
b) às condições de crise econômica das populações nativas dominadas pelo império dos astecas e dos incas.
c) à ação da burguesia espanhola que agiu isoladamente, dado o desinteresse do governo espanhol pelos territórios americanos.
d) ao acordo entre banqueiros e sábios europeus para ampliar o conhecimento científico e facilitar a exploração econômica da região.
e) ao esforço de solucionar a crise da economia européia motivada pela escassez do meio circulante.

3. Leia o texto a seguir:

"A causa pela qual os espanhóis destruíram tal infinidade de almas foi unicamente não terem outra finalidade última senão o ouro, para enriquecer em pouco tempo, subindo de um salto a posições que absolutamente não convinham a suas pessoas; enfim, não foi senão sua avareza que causou a perda desses povos, que por serem tão dóceis e tão benignos foram tão fáceis de subjugar; e quando os índios acreditaram encontrar algum acolhimento favorável entre esses bárbaros, viram-se tratados pior que animais e como se fossem menos ainda que o excremento das ruas; e assim morreram, sem Fé e sem Sacramentos, tantos milhões de pessoas.[...]."
                Fonte: LAS CASAS, B. de. "O paraíso destruído". Tradução de Heraldo Barbuy. Porto Alegre: L & PM, 1985. p. 30.

Com base no texto, é correto afirmar:
a) Bartolomé de Las Casas voltou-se contra a Coroa Espanhola ao perceber que a conquista da América sufocaria as possibilidades de evangelização dos habitantes do novo continente.
b) No episódio da conquista da América, o Frei Dominicano Bartolomé de Las Casas ficou conhecido como defensor incondicional dos índios, ao ressaltar a crueldade dos conquistadores.
c) Os conquistadores da América hispânica e da portuguesa rechaçaram o discurso do Frei Las Casas por considerarem que seus pensamentos representavam os princípios da Igreja Católica, contrária à expansão territorial.
d) O Frei Dominicano defendeu a dignidade e a liberdade dos indígenas até sua morte, transformando-se, assim, em ícone do livre-arbítrio nas Américas de colonização espanhola, portuguesa e inglesa.
e) O discurso de Las Casas em defesa dos indígenas era uma das diversas estratégias de conquista, uma vez que ele representava nas colônias os interesses da Coroa Espanhola.

4. Analise as afirmações sobre o Ocidente na Idade Moderna.

I. Em muitos relatos, a América foi representada como o "Paraíso Terrestre" dada a abundância de recursos e sua população, em uma visão etnocêntrica, foi considerada "bárbara", devendo ser catequizada.
II. A colonização da América Latina baseou-se, fundamentalmente, em princípios liberais, cabendo às colônias fornecer metais preciosos, ferramentas e produtos primários para dinamizar o comércio europeu e enriquecer suas metrópoles.
III. Na América espanhola, predominaram formas de trabalho compulsório dos indígenas, sob o sistema de "encomienda e mita"; já na América portuguesa, a escravidão, principalmente dos negros, foi a base da economia agroexportadora e mineradora.
IV. O tráfico negreiro modificou as sociedades africanas, não apenas porque tirou do continente milhões de pessoas, mas também porque lá introduziu novos produtos, por exemplo o tabaco, que eram trocados por escravos.
V. Como resultado da rivalidade entre Espanha e Holanda e da União Ibérica, os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro e regiões da África, a fim de controlarem a produção açucareira e fontes de mão-de-obra.

São corretas as afirmações
a) I, III e V, apenas.
b) II, IV e V, apenas.
c) I, III, IV e V, apenas.
d) I, II, III e IV, apenas.
e) I, II, III, IV e V.

5. A conquista e a colonização européias na América, entre os séculos XVI e XVIII, condicionaram a formação de sociedades coloniais diversas e particulares. Sobre tais sociedades podemos afirmar que:

I - nas áreas de colonização espanhola, explorou-se, exclusivamente, a força de trabalho das populações ameríndias, sob a forma de relações servis, como a "mita" e a "encomienda".
II - nas áreas de colonização portuguesa, particularmente nas regiões destinadas ao fabrico do açúcar, foi empregada, em larga escala, a mão-de-obra escrava de negros africanos e/ou de indígenas locais.
III - ao norte do litoral atlântico norte-americano, área de colonização inglesa, houve o estabelecimento de pequenas e médias propriedades, nas quais se utilizou tanto o trabalho livre quanto a servidão por contrato.
IV - na região do Caribe, em áreas de colonização inglesa e francesa, assistiu-se à implantação da grande lavoura, voltada para a exportação e assentada no uso predominante da mão-de-obra de escravos africanos.

Assinale a alternativa correta.
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
b) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
c) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

6. Quanto à conquista da América por espanhóis e portugueses, na passagem do século XV ao XVI, pode-se dizer que
a) no caso português o objetivo principal era buscar minérios e produtos agrícolas para abastecer o mercado europeu e no caso espanhol pretendia-se apenas povoar os novos territórios e ampliar os limites do mundo conhecido.
b) nos dois casos ocorreram encontros com vastas comunidades indígenas nativas, porém na América Portuguesa a relação foi racional, harmoniosa e humana, resultando num povo pacífico, e na América Hispânica foi violenta e conflituosa.
c) no caso português foi casual, pois os navegadores buscavam novas rotas de navegação para as Índias e desconheciam a América e no caso espanhol foi intencional, porque o conhecimento de instrumentos de navegação lhes permitiu prever a descoberta.
d) nos dois casos foi violenta, porém na América Portuguesa o extrativismo dos dois primeiros
séculos de colonização restringiu os contatos com os nativos e na América Hispânica a implantação precoce da agricultura provocou maior aproximação.
e) no caso português foi precedida por conquistas no norte e no litoral da África, que resultaram em colônias portuguesas nesse continente, e no caso espanhol iniciou a constituição de seu império ultramarino.

7. Seja qual for o termo utilizado para descrever o encontro de indígenas e europeus no continente americano no findar do século XV, é consenso que seu resultado foi, ao mesmo tempo, lucrativo para os europeus e desastroso para as populações indígenas. Sobre as conseqüências de tal encontro, analise as seguintes proposições:

I. A colonização da América do Norte foi empreendida por famílias inglesas em fuga da Inglaterra por causa das perseguições religiosas. Ao implementá-la, os colonos dizimaram grande parte da população nativa, considerada um empecilho para os seus interesses.
II. A estrutura básica da economia colonial na América do Norte foi a pequena propriedade fundamentada no trabalho familiar, na policultura e em uma indústria rudimentar, principalmente na área têxtil.
III. A partir da descoberta da América, pode-se notar o interesse da Igreja em cristianizar os nativos, preservando as culturas locais, ao mesmo tempo em que se introduzia pacificamente a nova religião.
IV. Nas possessões portuguesas, houve pouco interesse na efetiva ocupação do território, devido à prioridade dada pelo reino lusitano ao comércio com as Índias e ao fato de não terem sido encontrados metais preciosos nos primeiros contatos.

Assinale a alternativa CORRETA:
a) As proposições I, II e III são verdadeiras.
b) As proposições II, III e IV são verdadeiras.
c) As proposições I, II e IV são verdadeiras.
d) As proposições I e III são verdadeiras.
e) Todas as proposições são verdadeiras.

8. As diferenças culturais são evidenciadas pelos textos históricos como o que segue, que descreve aspectos da vida cotidiana dos astecas, no início da Idade Moderna.

[...] "Quando  lá chegamos, ficamos atônitos com a multidão de pessoas e a ordem que prevalecia, assim como a vasta quantidade de mercadorias... Cada espécie tinha seu lugar particular que era distinguido por um sinal. Os artigos consistiam em ouro, prata, jóias, plumas, mantas, chocolate, peles curtidas ou não, sandálias e outras manufaturas de raízes e fibras de juta, grande número de escravos homens e mulheres, muitos dos quais estavam atados pelo pescoço, com gargalheiras, a longos paus. O mercado de carne vendia aves domésticas, caça e cachorros. Vegetais, frutas, comida preparada, sa, pão, mel e massas doces, feitas de várias maneiras, eram também lá vendidas. [...] Muitas mulheres vendiam peixes em pequenos 'pães' feitos de uma determinada argila especial que eles achavam no lago e que se assemelhavam ao queijo".
                In: PINSKY, Jaime. "História da América através de textos". São Paulo, Contexto. 2004.

Através do documento
a) são citadas diversas riquezas coloniais oriundas da América Central que foram exploradas pela metrópole portuguesa.
b) são indicados diversos produtos que equilibraram a balança de comércio entre a Coroa espanhola e suas colônias na América.
c) é percebida uma das motivações da exploração mercantilista ibérica: o metalismo.
d) é constatada a necessidade ibérica da importação de mão-de-obra escrava e indígena para suas manufaturas.

e) é mostrado um sistema de produção, com base escravista que originou a "encomienda" utilizada pelo colonialismo lusitano.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

EXPANSÃO MARÍTIMA - EXERCÍCIOS E TEXTO DE APOIO

EXPANSÃO MARÍTIMA

1. Como falar em "Descobrimentos" se, já no século X, os vikings, provenientes da Escandinávia atual, alcançaram o extremo norte do continente americano? Em 984, o viking Eric, o Vermelho, atinge o sul da Groenlândia. No ano 1000, Leif Erikson chega à terra de Baffin e à Península do Labrador, no Canadá atual. Mas não se fixaram ou colonizaram essas terras.
                                                               (Carlos Guilherme Mota)

A historiografia tradicional denomina de Descobrimentos o período:
a) de expansão da civilização islâmica  responsável pelo desenvolvimento das técnicas e aparelhos de navegação.
b) da descoberta de novos continentes e expansão das regiões produtoras e consumidoras, responsável pelo surgimento de um mercado mundial no início da Idade Moderna.
c) de ascensão econômica da burguesia marítima- industrial e implantação nas novas terras descobertas do modo de produção capitalista.
d) da generalização do comércio pela Europa Oriental a partir do século XI, responsável pela reabertura do mar Mediterrâneo ao comércio europeu.
e) da exportação de capitais excedentes provenientes da América para as áreas coloniais e semicoloniais da Ásia e da África visando assegurar o controle das regiões produtoras de matérias-primas.

2. A respeito da expansão marítima européia, podemos afirmar, corretamente que:
a) as inovações tecnológicas como a bússola, o astrolábio e novos modelos de navios são fundamentais e suficientes para explicar aquela expansão.
b) a privilegiada localização geográfica de Portugal explica, suficientemente, o pioneirismo luso na expansão marítima dos séculos XV e XVI.
c) as figuras imaginárias convivendo com instrumentos científicos mostram como a razão e a fantasia estavam presentes naquela aventura.
d) as navegações e as descobertas das expedições reforçaram as novas idéias de que a Terra era redonda bem como do geocentrismo.
e) a chegada de Vasco da Gama a Calicute fortaleceu o comércio indiano de especiarias através do Atlântico e quebrou a hegemonia das cidades italianas.

3. Relacione os versos, abaixo apresentados, à expansão marítima de Portugal:

"O sonho é ver as formas invisíveis
de distância imprecisa, e, com sensíveis
movimentos de esperança e de vontade,
buscar na linha fria do horizonte
a árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
os beijos merecidos da verdade."
                (Fernando Pessoa)

Tomando por base o conteúdo, expresso através da poesia apresentada, o descobrimento do Brasil representou:
a) o resultado do planejamento adequado da Escola de Sagres, que condenava o espírito aventureiro.
b) a demonstração da fantasia dos lusitanos, complementada pelas experiências técnicas, desenvolvidas na arte náutica.
c) a dependência da expansão marítima lusitana à influência do romantismo na nobreza de Portugal.
d) a prova da influência do predomínio da burguesia na nobreza lusitana, expressa na aceitação do desafio de enfrentar rotas desconhecidas.
e) a execução do plano de cooperação internacional, pois as técnicas marítimas lusitanas eram fornecidas pelos italianos.

4. Vasco da Gama singrou águas de dois oceanos, aportou em três continentes e desembarcou em terras sofisticadas, eventualmente até mais desenvolvidas, em vários aspectos, que a sua pátria lusitana. Ao fazê-lo, não apenas abriu as portas para os chamados descobrimentos portugueses, mas deu início ao período que alguns historiadores chamam de "era da dominação européia na História". A partir dessas informações, julgue os itens que se seguem.

(1) Além de obter acesso aos condimentos indispensáveis à conservação dos alimentos, como o cravo, a canela e a pimenta, a expansão marítimo-comercial portuguesa promoveu a escravização do trabalho  humano e o alargamento das fronteiras mercantis européias.
(2) A exploração colonial dos Tempos Modernos favoreceu, ainda que de forma desigual, o crescimento social e econômico europeu e possibilitou  a acumulação de riqueza necessária para o processo industrial dos séculos XVIII e XIX.
(3) O que se convencionou denominar neocolonialismo conservou as mesmas estruturas do antigo colonialismo, embora sob a égide de uma nova orientação política e financeira: o absolutismo reinou e o mercantilismo exclusivista.
(4) As teses liberais do século XIX, à revelia das críticas ortodoxas, estimularam as intervenções do Estado nos negócios comerciais e financeiros, o que fortaleceu os laços de dependência das colônias americanas às metrópoles européias.

ESTÁ(ÃO) CORRETA(S):

a)     Somente 1
b)     Somente 2
c)     Somente 1 e 2
d)     Somente 3 e 4
e)     Todas

5. "A 16 de setembro, vimos flutuar pequenos maços de ervas marinhas que pareciam ainda frescas..., o que fez todos acreditarem que a terra se aproximava."
                (COLOMBO, Cristóvão. In: ISAAC, J. & ALBA, "A História Universal - Idade Média". São Paulo, Mestre Jou, 1967, p.193)

Este breve fragmento, extraído do diário de bordo escrito em 1492 por Cristóvão Colombo, tem um significado especial no processo de expansão das fronteiras européias. Podemos afirmar que a chegada à América faz parte do processo da(o):
a) expansão da economia mercantil e do fortalecimento da classe burguesa.
b) ampliação do movimento da Reconquista e da consolidação dos Reinos Cristãos Ibéricos.
c) decisão tomada no Tratado de Tordesilhas  e do fortalecimento econômico da Espanha.
d) utilização de novas rotas em direção ao Oriente e da tomada de Constantinopla pelos turcos.
e) descobrimento das novas técnicas de navegação e da assinatura da Bula Inter Coetera.

6. O ano de 1998 marca os quinhentos anos do Descobrimento do Brasil, pois, "Em 1498, D. Manuel ordenava que Duarte Pacheco Pereira navegasse pelo Mar Oceano, a partir das ilhas de Cabo Verde até o limite de 370 léguas [estipuladas pelo Tratado de Tordesilhas]. É esta a primeira viagem, efetivamente conhecida pelos portugueses, às costas do litoral norte do Brasil"
                (FRANZEN, Beatriz. A presença portuguesa no Brasil antes de 1500. In: ESTUDOS LEOPOLDENSES. São Leopoldo: Unisinos, 1997. p. 95.).

Esse fato fez parte
a) da expansão marítimo-comercial européia, que deslocou o eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico.
b) da expansão capitalista portuguesa, em sua fase mercantil-colonial plenamente consolidada no Brasil.
c) do avanço marítimo português, tendo Duarte Pacheco Pereira papel relevante na espionagem e pirataria no Atlântico.
d) do processo de instalação de feitorias no Brasil, pois Duarte Pacheco Pereira instalou a primeira feitoria, ou seja, São Luiz do Maranhão.
e) das expedições exploradas do litoral brasileiro, cujo papel de reconhecimento econômico e geográfico coube a Duarte Pacheco Pereira.

7. O processo de expansão marítima da Península Ibérica iniciou-se ainda nos fins da Idade Média. A Espanha, ainda dividida e tendo parte de seu território ocupado pelos mouros "andou atrás" de Portugal. Podemos afirmar que foram fatores decisivos do pioneirismo português em termos expansionistas EXCETO:
a) o processo de centralização política e administrativa precoce do país, a partir da Revolução de Aviz
b) a presença de uma nobreza fortalecida que, a partir dos impostos feudais, propiciou o capital necessário à empreitada expansionista
c) a formação de quadros preparados para as grandes aventuras marítimas na Escola de Sagres
d) o contato e o aproveitamento da cultura moura por parte dos portugueses
e) o incentivo governamental à expansão

8. Considere as seguintes afirmações.

I. Com a descoberta do caminho para as Índias, contornando a África, Portugal passou a dominar o comércio de especiarias, beneficiando a burguesia.
II. Enquanto os portugueses exploravam a costa africana e descobriam o caminho para as Índias, os espanhóis, na audaciosa viagem de Colombo, tinham por objetivo atingir a China através do Atlântico.
III. O plano de Cristóvão Colombo para atingir as Índias consistia em chegar a oeste viajando no sentido leste.
IV. Entre 1497 e 1498, Vasco da Gama completou a epopéia marítima portuguesa, aportando em Calicute, nas Índias.

Dessas afirmações,
a) somente uma está correta.
b) somente duas estão corretas.
c) somente três estão corretas.
d) todas estão corretas.
e) nenhuma está correta.



TEXTO COMPLEMENTAR

O REAL E O IMAGINÁRIO

Os séculos XV e XVI são conhecidos como os séculos dos grandes descobrimentos, para os europeus. Descobrimento do litoral africano, do novo caminho marítimo para as Índias, da América e também do Brasil. Foi uma época de realizações epopéicas, como a viagem de circunavegação. Aventuras marítimas que o poeta lusitano Camões considerou como feitos maiores do que os dos mitos e heróis gregos e romanos.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

De verdade, pode-se dizer que esse período, para europeus, foi o momento do descobrimento do planeta Terra. Até então, as terras e mares conhecidos dos europeus não iam muito além do próprio continente, se for considerado o tamanho total do planeta. Com as navegações, a concepção do mundo mudou. Os horizontes do conhecimento alargaram-se.

“Em suas viagens, os europeus encontraram altíssimas montanhas asiáticas com os picos brancos de neve e, na própria Ásia, terras tão baixas que sempre se alagavam. Encontraram escaldantes desertos africanos, onde os homens, quase mortos de sede, sofriam miragens e somente os camelos conheciam o segredo da sobrevivência. Na mesma África, contemplaram o rio Nilo, maior rio do mundo, as cataratas, lagos e lagoas e ainda savanas habitadas por zebras, girafas, leões. Encontraram na América florestas tropicais que, de tão deslumbrantes, incendiaram a imaginação dos homens e os fizeram se de Deus e ter visões do Paraíso.” (AMADO, Janaína e GARCIA, Ledonias Franco. Navegar é Preciso: Grandes Descobrimentos Marítimos Europeus. SP, Atual, 1989)
As navegações estimularam a investigação. Novos conceitos formavam-se. O homem tornava-se mais ousado nas ciências e nas artes. Havia mais autoconfiança. Evoluíram a física, a matemática, astronomia e os conhecimentos zoológicos e botânicos, pois conheceram animais e plantas, nas “novas terras”, totalmente desconhecidos para eles. Buscava-se compreender melhor os mecanismos do universo, e até mesmo o funcionamento do corpo humano, através da dissecação de cadáveres.
Entretanto, ao contrário do que se possa imaginar, esse avanço científico não desmoronou as fantasias da época. Em certo sentido, as estimulou. A barreira que separava o real do imaginário era muito tênue. Pode-se dizer, por exemplo, que a América já era imaginada antes mesmo de ser encontrada. Outros lugares eram dados como certos de existirem. Colombo, ao chegar à América, em um dado momento, pensou ter chegado ao Paraíso terrestre, que os europeus pensavam existir. Percebe-se que ciência e crenças populares, conhecimentos técnicos e fantasias conviviam na mesma aventura. A maior segurança dos navios estimulava o desejo de encontrar países imaginários, como Offir, de onde pensavam ser a origem de todas as riquezas dos tesouros do Rei Salomão. Outro lugar fantástico era o reino do Preste João, rei cristão que governava um país onde se localizava uma fonte da juventude e que havia rios repletos de ouro, prata e pedras preciosas.
A sedução por esses lugares (que levou o homem provavelmente à maior de todas as aventuras) também era recheada de medos e incertezas. A navegação pelo mar aberto significava conviver com duras realidades, como tempestades, doenças, fome e sede. O risco de naufrágio era enorme, não sendo poucas as embarcações vitimadas. Ao lado desses perigos reais acreditava-se haver outros perigos. Monstros marinhos, imãs que atraíam navios para o fundo do oceano, abismos enormes onde os navios despencariam caso chegassem ao fim da terra eram outros componentes desse universo. O fascínio convivia com o medo.
Percebe-se que o pensar da época certamente difere do de hoje. Não que o ser humano hoje seja incapaz de ter fantasias ou imaginar seres extraordinários. Mas no sentido de que as explicações para a quase totalidade desses fenômenos, reais ou imaginários, àquela época, eram tidos como expressão da vontade divina. É preciso entender que a época dos descobrimentos tem seus signos próprios, ou seja, os referenciais de uma época de profunda transformação, onde o imaginário medieval se funde à uma realidade completamente nova, nos vários aspectos da vida européia.

Mar Português
“O mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram sem casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Fernando Pessoa,

O   IMAGINÁRIO   CRISTÃO   NO   NOVO MUNDO

Os encontros entre os europeus e as sociedades indígenas que ocupavam o território hoje chamado Brasil têm como principais fontes de informações os relatos escritos pelos europeus, pois os indígenas não conheciam a escrita. Muitas vezes, e quase sempre, o olhar sobre o Novo Mundo era acompanhado de
referências próprias do mundo europeu, com base em suas próprias lendas e histórias bem conhecidas.
Era como se esse encontro fosse corroborar, ou tornar verdadeiras, visões idealizadas por eles, como  o caso da crença na existência de um Paraíso Terrestre ou mesmo do Eldorado. Desse modo, aquilo que é real, o povo indígena, a praia, a mata, os animais, etc., acabam também gerando novas visões idealizadas, ou reforçando as antigas. Como se a nova terra, lugar de paz e delícias, de cenários magníficos e inocência, pudesse ser ou, pelo menos, abrigar o lugar onde viveram Adão e Eva.
Tal visão vinha sendo alimentada desde que Colombo chegou às terras americanas. Entretanto, parece que entre os portugueses, a reprodução desse imaginário expressava-se com “os pés no chão”. Ou seja, o sonho era alimentado junto à possibilidade de ter deparado com uma terra de grande potencial econômico e, quem sabe, de encontrar riquezas materiais, como metais preciosos. Isso pode-se confirmar na própria Carta de Caminha, a “Certidão de Idade do Brasil”, que, mesmo enaltecendo a beleza natural do lugar, não deixa de vislumbrar as possibilidades de riquezas.
Nella até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem de   ferro lho vimos; pero a terra em si é de muitos bons ares assi frios e temperados como os d’antre Doiro e Minho (...) as águas são muito infindas e em tal maneira é greciosa que querendo a aproveitar dar-se-á n’ella tudo por bem das águas que tem; pero o melhor fruito que n’ella se pode fazer me parece que será salvar essa gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ella deve lançar;(...)” (in ABREU, J. Capistrano de. Capítulos de História Colonial. São Paulo, Editora da USP, 1988)
De certa forma, esse pequeno trecho é revelador dos objetivos da expansão marítima portuguesa. O conselho de Caminha ao rei D. Manuel mostra o comprometimento do empreendi-
mento comercial com a expansão do cristianismo. O discurso religioso foi uma das bases da dominação colonial. Além disso, os reinos ibéricos eram comprometidos com o papado, sem falar que a religião servia de sustentação para a hierarquia social e para o poder político na Europa. A outra preocupação expressa era com a existência de ouro e prata. Afinal, naquela época, acreditava-se que o país mais rico seria aquele que possuísse a maior quantidade de metais preciosos. Mas, além dos metais, as navegações lusitanas buscavam outras riquezas materiais: especiarias e artigos de luxo do Oriente. Daí, nos primeiros anos após o contato com a “nova terra” não foi desenvolvido um projeto planejado e estruturado de exploração, como seria a colonização, mais tarde, ainda no século XVI.
As informações dessa época, sobre a terra, os índios, a natureza e tudo o mais, existem através de relatos de homens como Pero de Magalhães Gandavo, funcionário da Coroa, Gabriel Soares de Souza, senhor de engenho e de índios escravizados, ou de Ambrósio Soares Brandão, judeu convertido que possuía um engenho na Paraíba. Outros importantes relatos são feitos por jesuítas e outros religiosos, dos quais, os mais importantes são de Manoel da Nóbrega e José de Anchieta. Mas não só de portugueses obtêm-se informações. Importantes descrições são feitas por franceses, como Jean de Léry, que com muita frequência andavam por essas bandas, comercializando com indígenas.

CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE
Janice Theodoro
Na Idade Média, grande parte da população espalhada pelos feudos não sabia ler nem escrever. As pinturas, os desenhos e as imagens eram muito importantes, ordenavam o mundo para aqueles que não conheciam o latim e comunicavam-se em idioma vulgar.
As imagens, assim como as culturas, eram hierarquizadas, valorizando sempre a cultura européia em oposição a outras tidas como exóticas. A maior ou menor capacidade de um povo em incorporar a doutrina cristã poderia indicar o grau de barbárie: civilizados eram os  europeus. Bárbaros eram todos aqueles que tinham costumes criticados pelos cristãos. (...)
Nos séculos XIII e XIV o espaço envolvia uma dimensão mítica e não matemática. Se eu comprava uma porcelana com um desenho muito estranho para mim, supunha que aquele objeto vinha de muito longe. Se eu descrevesse um reino cujo soberano andasse nu, ostentasse jóias e dispusesse de centenas de mulheres, também suporia distância e dificuldade de acesso a esse lugar. Portanto, a distância não resultava de uma medida matemática, mas da diferença dos costumes, costumes chamados de exóticos. Logo, figuras -e não números - indicavam a localização de países e oceanos.
Para o homem contemporâneo, acostumado a manipular a matemática, é fácil imaginar a distância entre os continentes ou cidades. Se falamos de Nova York, de Paris ou Maringá, no Estado do Paraná, imediatamente imaginamos o mapa-múndi, e olhando para ele podemos ter idéia das distâncias.
Na Idade Média era muito difícil calcular o lugar de uma cidade em relação a outra ou a distância exata entre dois pontos. Nos desenhos de antes do descobrimento da América, observamos uma dificuldade em se adequar as distâncias às proporções. Não se conhecia as regras da perspectiva. Marco Polo, por exemplo, avançou muito na cartografia quando observou que o mar-oceano era um só e banhava todos os continentes.
Assim como a matemática, a cartografia era trabalho de especialistas. O renascimento do comércio, o crescimento das cidades e, em especial os descobrimentos marítimos, alteraram profundamente  a  concepção  da  natureza  e  do homem. Buscava-se compreender o universo através da experiência.